domingo, 12 de outubro de 2014

Brincadeira de criança

Olás...

Depois de passar minha infância no interior, cheguei à cidade "grande" para passar a adolescência e todo o resto da minha vida, pelo que se vislumbra.

Nem sabíamos da existência do  Dia da Criança, porque todos os dias eram dias nossos. O interesse comercial na venda de brinquedos nem existia, até porque não havia brinquedo a ser vendido.

Nossas bonecas eram "fabricadas" por nós, as bolas para jogar futebol debaixo de chuva também eram fabricação da "turma", feitas com o leite da seringueira (até hoje sei como fazer esse processo). Os meninos, com seus carrinhos e trens,  todos feitos com latas vazias de leite; e barquinhos feitos de papel. 

Nossos papagaios (não conhecíamos a expressão pipa) eram confeccionados por nós, mas sequer chegavam aos pés das pipas modernas. Se elas ultrapassassem a cumieira (ou cumeeira) de nossas casas já era motivo de orgulho e gritaria de alegria. Não usávamos cerol, nem tínhamos noção disso. Graças a Deus éramos completos ignorantes a respeito. O cerol, atualmente utilizado nas linhas das pipas, já ocasionaram a morte de muitas pessoas e mutilaram outras tantas.  Uma brincadeira de muito mau gosto.

Joguei pião, mas até hoje não consigo fazer com que rodopie por tanto tempo. Dias desses tentei, mas é carma: não consegui!

Mas jogar com bolinhas de gude, sim, aprendi. E ainda tenho enorme atração por essas bolinhas de vidro. Hoje elas me acompanham para enfeitar meus vasos de flores.  Mas no fundo mesmo, é para sempre me lembrarem que quando eu quiser brincar... só retirá-las do vaso e tentar reviver a infância. 

Hoje é comemorado, no Brasil, o Dia da Criança. 

Esse dia foi criado (1920) antes de ser comemorado no restante do mundo (20/11/1959 a UNICEF oficializou a Declaração Universal dos Direitos da Criança, desde então essa data passou a ser comemorada na maioria dos países do mundo).

Nas semanas que antecedem este dia a propaganda é focada para um público, bastante exigente, que já não se contenta com os tais brinquedos acima descritos. Hoje, se uma criança abrir esse tipo de presente, a reação será jogar na cara de quem teve o "infeliz" gosto em presenteá-la. Mas os pais também já não dispõem de tempo - é o que eles dizem - para "fabricar" presentes para seus filhos. 

As lojas estão abarrotadas de "heróis  esquisitos", vindos de outros planetas. Àquela época, se calhasse algum de nós receber um presente desses, sairia correndo com medo daquelas caras estranhas.

                                                       Hoje é o Dia da Criança

E, nos outros dias, como os pais estão deixando seus filhos? Madrasta que matam; pais que machucam; padrastos que maltratam e ainda tiram foto da criança e exibem no celular. O que nossas crianças estão vendo nos celulares de última geração, presentes dos pais no Dia da Criança? Quantas crianças ainda continuam sem educação?  Quantas ainda esperam pelo lanche da escola, porque em casa nada têm para se alimentarem, e essa merenda não vem, porque é desviada para outros interesses? Quantas crianças não têm dia algum para comemorar, porque já nascem e são jogadas nos esgotos?  Quantas  crianças... quantas?

No fundo,  tudo é comércio. Tudo gira em torno de interesse financeiro, ou político. 

Se em 1920, algum brasileiro teve a ideia de criar esse Dia - e devo duvidar do objetivo, porque essa ideia veio de um político, deputado federal Galdino do Valle Filho - , foi somente no período de 1955 a 1960, quando a fábrica de brinquedos Estrela, em parceria com a Johnson &  Johnson, lançou a Semana do Bebê Robusto, é que passou a ser comemorado o Dia da Criança a cada 12 de Outubro.

Como se vê, interesse comercial por detrás de tudo isso, porque ambas as fábricas criaram a Semana do Bebê Robusto, com a intenção de aumentar a venda de brinquedos nessa semana.

Nada contra, mas queria tanto que nossas crianças fossem mais felizes e não somente uma felicidade efêmera, do tamanho do tempo que vai durar aquele brinquedo comprado na loja.


Mamãe Coruja

3 comentários:

  1. Nisso também, aí como aqui.
    Só não temos esse tal de cerol.... e ainda bem, pelo que pesquisei agora!

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  2. É inadmissível que exista esse tipo de "arma letal". Não são raros os casos de pessoas mutiladas e mortas por conta do cerol.

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